No soar do tempo
Vejo a vida passar
Num quadro de cores diversas
Começo a buscar o meu existir
No avesso do colorido
Vejo a minha imagem refletida naquilo que eu pensei ser eu
Porém, o mundo destorce a realidade que me rodeia
Vivo presa aos meus próprios pensamentos
No retângulo preto e branco
Tristes lembranças insistem em permanecer
Tom cinza permeia a alma
Receio de viver o presente
Amanhã, não sei o que será
Talvez o pesadelo seja o alívio
Ou talvez o sonho seja o receio de prosseguir
Ainda não sei definir em qual estação deixei de sonhar
Parece-me que o retrato preto e branco aspirou ao colorido
da primavera
E hoje, somente hoje, sou a rosa que floriu o jardim
Suavemente deixei brotar em meu ser o avesso do preto e branco
Por quê?
Ainda não sei explicar o que mudou em mim
Talvez seja o desejo incessante de descobrir onde ficou o
brilho do meu olhar
Foi no tom cinza? No retrato preto e branco?
Parece-me que as cores turvas foram apenas um breve
pensamento
De um passado que não existiu
De um sonho que não foi sonhado
De um elo que não foi construído
De um amor não correspondido
De um nada que se tornou tudo
Agora volto a face para o presente
Sou a rosa perfumada a resplandecer o ambiente
Retrato preto e branco é apenas uma ilusão
Preto e branco são o contraste do sonho perdido
Retrato preto e branco quem irá decifrar?
Élida Teles
24/01/2012